Vazamento de óleo em São Sebastião Foto: Divulgação |
O que era para ser um começo de mês farto para os pescadores do Litoral Norte começou com uma frustração. A reabertura da pesca do camarão, iniciada no dia 1º passado não trouxe a quantidade de crustáceo esperada pela comunidade pesqueira. Somente em São Sebastião onde a expectativa era que cada barco trouxesse pelo menos 300 quilos do mar, o que se viu ontem foi algo inferior a 100 quilos.
O derramamento de óleo ocorrido no início de abril deste ano, época do defeso do camarão – período onde a pesca é proibida porque é a fase de reprodução e desenvolvimento dos crustáceos – é apontado como um dos fatores para a pesca fraca.
O pescador e tesoureiro da Colônia de Pesca Z-14, em São Sebastião, Julio César Manoel Serpa, 42 anos, contou estar decepcionado com a quantidade pescada. Segundo ele foram 48 quilos de 7 barba, 19 do branco, 40 do misturado e 50 quilos de siri para uma pesca iniciada no sábado com retorno ontem. “Em outras épocas eram pelos menos 400 quilos do 7 barba e uns 80 quilos do branco”, comparou.
O que chamou a atenção do pescador foi a quantidade de filhote que veio com os crustáceos mais graúdos. “Quando teve o acidente no mar apareceram filhotes mortos na praia a Petrobras tentou descaracterizar que não eram de camarão. Mas então o que são esses aqui, iguais àqueles que surgiram após o acidente?”, questionou o pescador que há 28 anos tem
na pesca seu ofício.
Ele relata ainda que a maioria dos barcos pesqueiro está saindo da área mais abrigada porque não há camarões. “Mas isso é vantagem para quem tem embarcação grande, os pequenos, com certeza, estão com prejuízo”. Pela Colônia são em torno de 70 embarcações, cerca de 200 pescadores e 500 pessoas envolvidas na pesca do camarão. “São esposas, filhos, que ajudam na comercialização”, apontou.
Se a quantidade continuar abaixo da expectativa, os pescadores já falam em majoração no preço do quilo. Com a pesca abundante, como em períodos anteriores, a projeção era de o quilo ser vendido entre R$ 3 e R$ 4, mas agora já se fala em chegar a R$ 8. “O preço será definido hoje (ontem) à noite pelo Ceagesp”, disse Manoel Paulino da Silva, secretário da Colônia dos Pescadores.
Aos 63 anos, dos quais a maior parte dedicada à pesca, ele também fala da frustração com o fim do defeso do camarão. “Em 30 anos esse foi o pior de todos. Decepcionante.”, resumiu.
Para ele, a situação é crítica e aponta como exemplo um caminhão que veio de Santa Catarina que deve ficar mais dias, se a situação perdurar, para levar os crustáceos para o Sul. Ele deveria ser carregado com pelo menos 10 toneladas de camarão neste primeiro dia do retorno dos barcos, mas pelas contas não chegaram a 500 quilos. “Temos uma produção para atender só nossa região, quando os pescadores esperam essa época para vender para o Ceagesp e outros Estados”, pontuou Silva.
Quem não se preocupou muito com isso foi a podóloga Vera Lúcia Aparecida Silva, 54 anos, moradora em Belo Horizonte (MG) que está passando uns dias em São Sebastião e foi direto na fonte para conseguir comprar camarão fresco e a um preço bom. “Soube que os barcos estavam chegando e vim buscar um pouquinho porque é muito caro comer na praia”, contou.
Despesas
A situação não foi diferente nas outras cidades da região. A presidente da Colônia de Pesca Z-6, de Ilhabela, Benedita Aparecida Leite Costa, a dona Ditinha, relatou que para essa viagem, os pescadores não terão condições nem de pagar as despejas que tiveram para deixar as embarcações em ordem para a abertura da pesca do camarão.
Segundo ela, são 50 embarcações na Ilha, mas uns 15 saíram no final de semana para pescar. “Mas a reclamação foi geral, pescaram pouco e não era para estar assim nessa época”, disse a presidente que também acredita que houve influência do derramamento de óleo no mar para o ‘sumiço’ dos crustáceos.
Em Caraguatatuba, o presidente da Colônia Z-8, José Roberto Carlota, informou que o volume pescador foi inferior ao esperado. “Nossa expectativa é que melhore nos próximos dias”.
“Sou otimista de que a natureza se recupere e a produção de camarões volte à normalidade”, disse Manoel Silva, de São Sebastião.
Em nota, a Transpetro informou ontem que continua atuando na região conforme o Plano de Ação e Monitoramento acordado com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
Fonte: Jornal Imprensa Livre
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